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Revoluções a Todo Vapor - Mundo Menor, Tempos Mais Curtos

Em Abril de 1822, uma locomotiva a vapor corta os campos floridos pela primavera numa região agrícola da Gran Bretanha. Era o progresso, em plena era do vapor, iniciando as revoluções que viriam a moldar definitivamente o mundo em que vivemos hoje, com indústrias, transportes e comunicações tal como conhecemos. Mas a coluna de vapor e fumaça, vista ao longe, faz com que camponeses desviem o olhar. Alguns correm para retirar o gado do pasto e levá-los para um local de onde não possam encarar a passagem da composição em alta velocidade. A poderosa máquina viajava rápido demais e ninguém sabia ao certo quais as consequências disto. Na dúvida, muitos adotavam a precaução. Olhar algo tão veloz podia levar a loucura, pensavam alguns. Pior seria viajar dentro daquilo. Quando a locomotiva a vapor conseguiu romper a barreira dos 30 Km/h então, um grande debate sobre as consequências para o corpo humano, a bordo de um trem ultra veloz para os padrões da época, foi travado entre estudiosos e a polêmica se instaurou na sociedade. Os medos e receios que surgem a cada avanço, revolução tecnológica ou o surgimento de novos e sofisticados equipamentos e máquinas, é uma coisa latente em nossa alma humana. Só pra ter uma ideia, há poucos anos houve um grande debate sobre os riscos de um acelerador de partículas, usado em pesquisas científicas, iniciar eventos que levariam a destruição do planeta e até o colapso do universo inteiro.

Os trilhos levaram trens a todos os lugares importantes. Ainda no século XIX, as viagens a bordo dos vagões sobre trilhos se popularizaram em muitas partes da Europa. E quando as polêmicas sobre a velocidade destas máquinas foram superadas, outro grande problema surgiu. As medidas do tempo agora não eram mais suficientes para prever o horário das composições em cada estação. O trem é rápido demais para os relógios da época. Basicamente, todas as medidas de tempo ao longo de milênios de nossa existência esteve baseado em horas completas. Bastava olhar a posição do Sol e já tínhamos uma noção da hora em que estávamos. Os relógios mecânicos davam mais precisão às medidas, mas ainda assim apenas as horas eram marcadas. Acontece que em pequenas frações de horas, um trem conseguia ir de uma estação a outra, chegando ao destino ainda na mesma hora em que saiu da origem. Coisa que era impossível acontecer quando se usava cavalos no trajeto. Então, pra resolver o problema uma companhia ferroviária da Gran Bretanha decidiu fracionar a hora. De novo os antigos povos da mesopotâmia contribuem diretamente com uma revolução tecnológica importante. Como os relógios mecânicos eram circulares, simplesmente fizeram a divisão do círculo em ângulos menores do que as horas para encontrar os minutos. As medidas de ângulos usam uma base numérica desenvolvida e adotada por sumérios milênios antes dos trens e do relógio mecânico. Baseando-se no número 60, ao invés da base decimal muito adotada hoje, estabeleceu-se os 360 graus de uma circunferência. A facilidade de divisão do número 60 (por 2, 3, 5 e 6) é a chave do sucesso e caiu como uma luva para a solução da divisão das horas. A novidade do tempo dividido em minutos surge então em... 1860!

Os trens estavam encurtando não apenas distâncias, mas também a contagem de tempo. Logo a velocidade de tudo viria a aumentar de forma alucinante até o ritmo dos ciclos no processador de seu dispositivo digital usado para ler este texto. Mas antes disto, os trens ainda dariam impulso a outras revoluções. Com os trilhos a princípio interligando cidades importantes e depois qualquer rincão antes isolado, as estradas de ferro passaram a fornecer uma base de infra estrutura para instalação de um recurso novo que prometia diminuir ainda mais as distâncias, pelo menos para a comunicação.

Paralelamente ao avanço dos trens, pesquisas com a eletricidade de desenvolviam a um bom tempo, mas poucos sabiam qual o uso prático das descobertas. Um  norte americano então começou a brincar com pilhas e bobinas elétricas capazes de acionar eletroimãs. Samuel Morse percebeu que poderia usar um interruptor para acionar uma campainha. Até ai, nada demais. Porém, se o interruptor ficar numa sala e a campainha em outra, então dá pra mandar uma "mensagem" de um lugar para outro. Era fantástico! Alguém apertava o botão numa sala e na outra uma campainha tocava avisando outra pessoa. Morse poderia ter apenas inventado a campainha elétrica pra garotada apertar no portão e correr. Mas ele decidiu ir além. Os toques no interruptor poderiam transmitir códigos e a campainha poderia ser colocada em locais realmente muito distantes. Assim nascia o telegrafo e a comunicação entre cidades longínquas podia ser feita em poucas horas, ao invés de vários dias.
Postes de linhas de telegrafo ao longo de uma ferrovia da Great Western Railway, no Reino Unido

Entre 1830 e até o final da década de 1840, as pesquisas de Morse levaram a construção de linhas de telégrafos pelos EUA. Levar postes e fiação de um lugar para outro no meio do nada ficava um tanto complicado, então as estradas de ferro e as estações de trem logo se tornaram componentes também das redes de telegrafo. Sem o telegrafo, o trem chegava antes de qualquer mensagem a cada estação. Agora, com a rede de telegrafo, uma mensagem era capaz de superar a velocidade do trem. Já dava pra avisar alguém sobre sua chegada a uma cidade e aguardar a recepção na estação, pois em minutos a pessoa seria avisada por algum mensageiro enquanto você estivesse no trajeto viajando a "alucinante velocidade" de 30 Km/h a bordo de um vagão puxado pela 'Maria Fumaça'.

Quase imediatamente as duas novidades tecnológicas se popularizaram causando transformações incríveis na sociedade. O mundo era menor e as notícias se espalhavam com uma velocidade nunca antes imaginada. Até o surgimento do trem e do telegrafo, a quantidade de informação obtida ao longo de um dia por um cidadão normal estava um tanto limitada pelo tempo em que as novidades de várias partes do país (e do mundo) precisavam para serem transmitidas às agências de notícias, impressas e entregues. Processos que dependiam dos meios da época, baseando-se em não mais do que mensageiros a cavalo levando informações de um ponto a outro. Haviam muitas regiões realmente isoladas. Agora tudo chegava ao mesmo tempo e a quase todos os lugares. E em um curto período, coisas que demandavam uma eternidade de tempo pra serem processadas, já eram resolvidas rapidamente.

Mas era preciso ir mais longe com a campainha do telégrafo para que o mundo fosse realmente reduzido ao tamanho de uma pequena aldeia global. E quanto mais longe e mais rápido a informação chega, precisamos de mais ajuda das máquinas para processar tudo o que recebemos e enviamos.

Continuaremos na próxima postagem!

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